segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

São Silvestre 2011 - Muita alegria, muita chuva e... lamaçal.

E lá se foi 2011 e com ele todos os acontecimentos e desafios passados. Quem venham novos desafios e novos acontecimentos, sempre com muita saúde e alegria.

E fechamos 2011 com mais uma São Silvestre, agora com novo percurso. Novidade que foi polêmica para a maioria dos corredores, pois a São Silvestre é uma das corridas mais tradicionais desse nosso Brasilzão afora. Mas a maioria esquece que a São Silvestre muda desde de sempre, seja para beneficiar a organização, ou seja para... quer dizer, sempre foi em benefício da entidade que organiza, os corredores que coloquem o par de tênis e que a façam se quiser.

Para os especialistas a mudança do percurso melhoraria os tempos referentes ao percurso anterior. Só esqueceram de pedir a São Pedro que ajudasse com a quebra de tempos. Apesar do etíope Tariku Bekele ter feito um tempo abaixo da edição de 2010, vencida pelo Marilson que chegou na 8a. posição este ano, a previsão é que o tempo fosse muito abaixo do registrado. Fica aqui o parabéns ao etíope que tem tudo para figurar no cenário mundial de corridas, vide o sangue e o sobrenome, já que é irmão do grande Keneniza Bekele.

Mas vamos a corrida dos pobres mortais. Estréia da minha esposa e de seu pai na São Silvestre, e não só na prova mais famosa do fim de ano, pois foi a primeira vez que passaram da marca de 10Km. A minha esposa tem treinado regularmente, até porque vem se preparando para sua primeira prova de duatlo (corrida + bike). E vem treinando bem, deixando o maridão coruja aqui todo orgulhoso. O sogrão também tem treinado com afinco, ainda sem acompanhamento profissional, mas daqui a pouco ele entra na linha. Vem usando o belo cenário da Lagoa Rodrigo de Freitas para se preparar para as provas. Apenas o meliante que vos fala é que se tornou um marginal das pernas, pois tenho sido um relapso com minha rotina de treinamentos... peraí, que rotina de treinamentos? Pois é, desde março que não sei o que é ter uma sequência de treinos, e lá fui eu novamente para São Silvestre apenas com a disposição e uma boa dose de irresponsabilidade. A meu favor conta pelo menos minha ação de ter visitado o cardiologista para conferir que máquina continua azeitada, apesar do descaso com minha forma.

Achei a feira deste ano, na retirada do kit, mais bem organizada e com mais novidades que a do ano passado. No dia da prova tinha estabelecido um plano de deixar o carro perto de uma estação de metrô, de onde partiríamos para a prova, o que acabou não se concretizando, e acabamos deixando o carro em um estacionamento na Alameda Santos, igual ao ano passado.

Chegando a Av. Paulista, vimos muita festa e aproveitamos o tempo antes da largada para ver as decorações de Natal. As agências Bradesco e Itaú este ano capricharam e realmente entraram no espírito natalino.
Decoração da Agência Itaú da Av. Paulista,

No dirigimos ao local da largada, encontramos um lugar de onde poderíamos partir sem problemas maiores, e eis que dada a partida, levamos os protocolares quase 10 minutos para passar pelo marco da largada. Isso porque ficamos não muito distante da largada, porque a previsão era perto de 25.000 inscritos, e de onde estávamos ainda dava para vislumbrar um mar de corredores atrás.
Eu e minha esposa antes da prova.

Logo na Paulista a dupla Pai e Filha se desgarraram de mim, pois o condicionamento e a empolgação falaram mais alto. E o "Zátopek"aqui preferiu manter a estratégia de chegar bem, controlando o tempo quilômetro à quilômetro, para evitar muitas dores após a chegada, pois não sentir dor é algo utópico em uma prova com o nível da São Silvestre, ainda mais sem treinar. A largada serviu também para a chuva cair, mas na Paulista mesmo ela deu uma amainada.
Neste novo percurso, passar por baixo da Paulista foi uma sensação super legal, pois os brados de incetivo da galera que vai para assistir, pareciam ecoar pelas paredes. Na descida da Major Nataniel, um mar de corredores à frente e um cara com cabeleira e óculos escuro,que imitava um bulldog com perfeição, assustando os mais desatentos e fazendo justiça ao folclore desta prova, onde muitos vão para se divertir e aparecer.
Descida da Major Nataniel.

Na subida da Itápolis, São Pedro resolveu entornar os baldes, encharcando até os ossos todos os corredores, independentes de gênero, credo ou condição financeira. Tomando muito cuidado com as corredeiras formadas nas guias, aqui em Sampa guia é o mesmo que meio-fio no Rio, diminui a passada e vi um corredor sendo ajudado por outro, este corredor em questão puxava um carrinho de mercado, que tinha um boneco com mensagens contra a descriminação racial. No carrinho ainda estava o filho do corredor, e ver outros corredores ajudando mesmo sem conhecê-los me dá esperança que a descriminação seja apenas um má lembrança em um futuro próximo.

Mais adiante ainda passaram por mim o Mosquito da Dengue, o Chaves, o Kiko e Seu Madruga, e um carioca que trazia uma parafernália de isopor representando o Maracanã e o Cristo Redentor, já sem um dos braços. Isso tudo sem chegar ainda a metade da prova, o que confirma o espírito jocoso do povo brasileiro.

Na Mário de Andrade, que na verdade era um trecho em cotovelo, consegui ver na outra pista a dupla dos empolgados Pai e Filha dando uma trotadinha, e nem notaram que passei em sentido contrário tão absortos estavam na prova. Neste mesmo trecho, três gaiatos corredores vestidos de vaquinhas com tetas, da cabeça aos pés faziam a alegria da meninada e ainda escutavam besteiras de alguns marmanjos, as quais ignoravam em prol da alegria maior.

E lá vamos nós, após uma Dilma que prometia uma faxina no Senado, um Rei Roberto Carlos que cantava e era aplaudido pelas massas e mais alguns fantasiados corredores.

No final da Norma Pieruccini registrei a imagem que mais me impactou nesta prova. Um pai corria empurrando uma cadeira de rodas com sua filha sentada e de capa de chuva, sendo aplaudidos por uma multidão a medida que passavam. Desde que comecei a correr estas provas, eu vejo exemplos de superação como de biamputados, cadeirantes e deficientes físicos que corriam mesmo de muleta. São exemplos como esses que me fazem acreditar que podemos nos superar a cada dia, e perceber que o Ser Humano é capaz de realizar coisas incríveis independente das dificuldades impostas.

Ao chegar na Rudge, tive que realizar um rápido pit stop, pois a chuva fria e os postos de hidratação aceleraram o chamado da Mãe Natureza. Bexiga zerada, uns dois minutos perdidos e pé na estrada novamente.

Na Av. Rio Branco escutei uma pergunta para lá de curiosa de um senhor de 79 anos que trotava elegantemente, e que eu estava ultrapassando:
- "Escuta, somos os últimos?"
- "Não, ainda tem um mar de gente para trás."
- "Ótimo!"

Curioso, perguntei se ele iria aumentar o ritmo caso estivéssemos em último, ao que ele respondeu:
- "Não meu filho, em último eu começaria a andar para chegar..."

Tive que rir, desejei um bom ano novo com saúde e acelerei.

E passa o homem planta, o homem palhaço, um cangaceiro, um viking, e vamos que vamos. Vira Ipiranga, vira São João, contorna o belo Teatro Municipal, passa pelo Viaduto do Chá... pois é, a São Silvestre tem a característica de mostrar os belos lugares de São Paulo.

Então chegamos a hora em que se separam os corredores dos "rastejadores" como eu, a minha frente estava a famigerada Brigadeiro Luis Antonio. Praticamente dois quilômetros de subida constante, e a chuva aperta e descem corredeiras, mas o público está lá, não nos abandona, nos incetiva, gritam votos de feliz ano novo, passam energia, fazem brindes com tulipas de cerveja de suas sacadas... sacanagem né? Correndo que nem um maluco e o cara brindando nossa passagem com cerva e churrasco. Gritei um Feliz Ano Novo e parti ladeira acima.

Na Brigadeiro deixei minha perna esquerda, ou ela me deixou, não sei de quem foi a decisão primeiro. Ela já vinha doendo alguns kms antes, neste ponto ela simplesmente parou de doer. Na verdade eu parei de sentir a perna, o que foi até uma benção, pois ainda arrisquei um trote de uns 100m na Brigadeiro, apenas para sair bem na lente de uns fotógrafos de uma dessas empresas de foto esportiva, que proliferam aos montes.

Finalmente passo no pequeno corredor da Paulista, para então descer o outro lado da Brigadeiro aos gritos de: "Não desiste!", "Falta pouco!", "Raça!", "Vai condenado!"... fazer o que né?
Na descida faltando pouco mais de 2kms resolvi começar a me divertir pra valer. Parei e tirei uma foto com o rei do rock, Elvis Presley, que cantava My Way com a voz do Sinatra. O Rei corria caracterizado, com um violão a tira-colo de onde tirava uns acordes enquanto trotava. Realmente uma festa.
O Rei do Rock não morreu.

Vira Mal. Estênio, vira Manoel da Nóbrega e chego finalmente a Pedro Álvares Cabral, como o próprio descobridor que gritava:  "Linha de chegada à vista!!!". A minha frente o belo Parque Ibirapuera, com a imponente Árvore de Natal, e a chegada mais na frente. Mais um pequeno trote para cruzar bem no tempo bruto aproximado de 2h38m. É indescritível a sensação de cruzar a linha de chegada, seja de uma prova de 5km, 10Km, ou até mesmo de uma meia-maratona, a qual já tenho duas no currículo. Mas cruzar a chegada da São Silvestre, para mim é um sonho realizado, e potencializado pela companhia da minha esposa e do meu sogro. Tudo bem que cheguei 4min atrás deles, mas o despreparado era eu, então posso me permitir um sorriso de sensação de que "não estou tão mal assim" ;)
Chegada da prova com a Árvore de Natal como testemunha.

Acabada a São Silvestre, começou a corrida de aventura para pegar a tão merecida medalha. Bola completamente fora da organização, pois sujeitou a todos os corredores cansados, a um lamaçal gigantesco no qual se tornou a dispersão e o caminho para pegar as medalhas. O gramado do Ibirapuera neste trecho já não existe mais, e os resmungos, reclamações e impropérios ao longo da aventura que foi buscar a medalha foram a constante deste momento.
Para completar, um desencontro na linha de chegada com a dupla de empolgados, celulares descarregados e uma chuva que não parava de cair, testaram ainda a nossa vontade férrea de voltar para casa com um sorriso no rosto.
Graças a Deus ou a insanidade de um motorista de táxi chinês, conseguimos uma condução que nos aceitasse totalmente encharcados, para chegarmos ao estacionamento e pegar o carro para voltar para casa. Aliás, o motorista do táxi foi um capítulo a parte nesta história, pois era uma figuraça, que quase atropelou uma corredora distraída na frente de policiais, e quando escapamos ilesos ainda se vangloriou que tinha 10 advogados caso ocorresse algum problema. Realmente hilário.

No mais, sem ser promessa de fim de ano até porque o ano já virou, pretendo voltar a ter uma rotina de treinos que me permitam voltar as meias maratonas e quem sabe minha estréia nos 42km.


Feliz Ano Novo! Muita sola de tênis para gastar e muita saúde para os que me lêem e seus familiares

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Correndo pelas palavras...

Andei me perguntando porque pessoas tem esse desejo insano de escrever um Blog. O que as leva a "desperdiçar" aquele tempo precioso, em que poderíamos estar realizando algo mais útil, teclando mensagens, contando histórias e/ou estórias ou simplesmente divagando pela teia mundial.
Eis que acordo um belo dia, e me vejo pensando em criar eu mesmo um Blog, HAHAHA!!! E sobre o que exatamente eu falaria? CARAMBA!!! A gama de assuntos que vieram a mente foi assustadora.
PENSAMENTO, êita palavrinha perigosa. Já que o desejo (este vil sentimento que se apodera de nossas ações senão for duramente combatido) estava instaurado e enraizado, achei que mal não faria em criar um Blog (espero não me arrepender, hehehe).
Mas voltando ao assunto, falar sobre o que? Sobre meu filho? até seria bacana, e quem sabe um projeto para o futuro. Sobre a desigualdade social? É, me incomoda muito e quem sabe um Blog a mais não faria diferença, e mesmo que não faça, seria um ótimo veículo para "colocar as coisas para fora" (no bom sentido é claro). Decidi mesmo é falar sobre superação. Traduzindo melhor, falar sobre CORRIDA. O esporte mais antigo do mundo, pois com certeza o home de neanderthal botava "sebo nas canelas" quando se via ameaçado pelas espécies monstruosas daquela época.
Pois é! Estou de volta ao belo "vício" de correr. Após um longo hiato, quase que um ano e meio, sem praticar nem cuspe a distância, em um arroubo de resolução de fim de ano, e com o "agravante" de me preparar melhor para a vida de pai, resolvi voltar a rotina sacrificante dos treinos e me planejar para o sofrimento das corridas de rua. A meta, é claro, é concluir uma MARATONA, ou seja, coisa de maluco mesmo. 42.195 metros de puro martírio infernal e delecioso. Se vou conseguir? Só Deus, minha força de vontade (que as vezes me falha, já que sou humano) e minhas pernas é que dirão. Até lá, resolvi discorrer sobre esta mais nova louca aventura.